Seguindo a vocação caminheira e ousada de seus ancestrais, de Taubaté, em São Paulo, partiu bem escudado Matias da Silva Borges. Um forte descendente de bandeirantes piratininganos, em cujas veias corria o sangue fervente de violador de sertões e plantador de cidades.
Por volta de 1767, esses sertanistas garimpeiros chegaram a essa terra, lugar exato onde hoje está construída a Igreja Matriz do Divino Espírito Santo, e, em plena floresta multi-secular, fizeram seu primeiro acampamento. Foi com uma prece à sombra da cruz abençoadora do alvorecer do Brasil, que os descobridores renderam ao alto suas graças.
Nos dias seguintes à chegada, deixando ainda acesso o lume, a caravana de homens de espadagão à cinta, chapéu de abas largas, tomou o rumo do Morro do Chapéu, na esperança de ouro localizar. A preciosidade não foi encontrada, mas Matias Borges no local decidiu ficar, fundando assim o povoado do Espírito Santo dos Sertões. Não achou as suspiradas gemas e muito menos as sonhadas esmeraldas cor da esperança, mas como os seus antepassados, que plantavam em cada cruz que levantaram a semente de tantas cidades do Brasil, semeou nas terras o embrião do que hoje é o município de Coqueiral.
Logo após a fundação, Matias Borges promoveu a vinda de sua esposa, Mariana Joaquina do Sacramento, que veio acompanhada de parentes e outros companheiros, com os quais pouco tempo depois foi rezado o primeiro culto. Feita a profissão de viva crença em um Deus, que não era um simples Tupan, o fundador e seus companheiros iniciaram as suas atividades agrícolas, tratando, sobretudo da lavoura de cana de açúcar. Havia ainda a carência de mão de obra para a lavoura e de gente para povoar o recém-fundado povoado, Matias então providenciou a vinda de novos companheiros, que por sua vez atraíram outros. Espalhada a notícia, pouco tempo depois, de São João Del Rei aportou nas terras, o Capitão João Manoel de Siqueira Lima e seus amigos.
De acordo com os registros, o casal Matias Borges e Mariana Joaquina, teve apenas dois filhos; João e José Matias Borges, que venderam suas heranças. Ao que se sabe os filhos do fundador não deixaram filhos; sabe-se apenas, pelo relato de pessoas que residiam no local, que mortos, no velho cemitério aldeão, foram sepultados.
Em 1873, no povoado chegaram os Missionários Capuchinhos; vieram pregar as missões, prosseguir com as obras de construção da Igreja do Rosário e erguer o atual cruzeiro da Praça Sete de Setembro. Já o antigo cruzeiro hoje existente na Praça Santos Dumont foi festivamente erigido em 1904, que então mandou abrir a atual rua Tiradentes. Reza a lenda, que em documento contido em uma garrafa enterrada ao pé do cruzeiro conta os nomes dos patronos.
O povoado do Espírito Santo dos Coqueiros pouco a pouco, ia se desenvolvendo, mesmo às margens da floresta. Em 1846, já no Governo de Ricardo Sá Rego, foi criado o distrito de Paz de Espírito Santo dos Coqueiros. Consta que a boa nova foi acolhida alegria e incontido regozijo cívico. Os discursos deram em uma tribuna improvisada à sombra de uma árvore centenária.
O primeiro nome dado à terra fundada pelo sertanista Matias Borges foi de Espírito Santo; hoje padroeiro da Igreja Matriz de Coqueiral; em 1792, há registros que o povoado também fora chamado de Espírito Santo dos Sertões, do Sapê e da Trombuca, conforme testifica a certidão de um batizado aqui feito por Pe. João Pereira de Carvalho. O nome Espírito Santo dos Coqueiros, originário, indiscutivelmente, da abundância de palmeiras encontradas nas densas matas locais, das quais ainda existem alguns exemplares, perdurou até 1923. Nesse ano, o distrito criado em 1846, por força da Lei volta a pertencer a Dores da Boa Esperança, município hoje de Boa Esperança, e passa a se chamar somente Coqueiral.
Depois da criação do distrito de Paz, em 1846, Espírito Santo dos Coqueiros foi integrado ao território de Lavras, elevada à categoria de vila em 1831. Em 1868, o distrito foi incorporado à Vila das Dores de Boa Esperança, desmembrada do município de Três Pontas. Em 1902, passou a pertencer ao Município da Vila de Campos Gerais. Em 1923, volta a pertencer à Boa Esperança, sendo emancipado no dia 1 de janeiro de 1949. Judicialmente, porém, continua pertencer à Comarca de Boa Esperança.
A primeira estrada de automóveis foi, afinal, aqui constituída em 1924, sendo primeiro proprietário de um carro "Ford", Rosendo Batista Pereira.
Em 1 de Junho de 1923, foi inaugurado o primeiro cinema local, instalado em um barracão construído próximo ao cemitério. Foi esse cinema um dos encantos da adolescência, adoravelmente musicado pela terna orquestra do maestro José Cipriano Freire, a qual já era uma espécie do futuro "Conjunto Serenata". No mesmo barracão, em 1926, o grêmio teatral "Filhos de Talma" se apresentou.
Em 1927, foi inaugurada a primeira água potável em Coqueiral. Em maio de 1930, instalou-se festivamente no distrito, a primeira luz elétrica. No mesmo ano, mas no mês de novembro, pelo ônibus do Major José Luiz de Mesquita, começou Coqueiral a ter correio diário.
Somente em julho e 1932, grande parte da população ficou conhecendo o rádio, graças a um aparelho receptor, adquirido por Dr. José Gregório Moreira e outros, interessados nas notícias pertinentes à chamada Revolução Constitucional.
Os primeiros registros do desejo de emancipação política e administrativa do distrito de Coqueiral estão documentados em 1943, quando em Belo Horizonte, fez encaminhar o pedido à Comissão de Estudos da Divisão Administrativa e Judiciária do Estado, a qual deu por bem o parecer favorável ao processo, reputando o relatório como um dos mais bem elaborados. Entretanto, na hora da sanção do decreto-lei, já estava no regime ditatorial, e o pedido foi preterido. Após votação unânime na Assembleia Legislativa do Estado de Minas, o então governador Milton Campos sancionou a histórica lei nº336, que declara emancipado o distrito de Coqueiral, já com 106 anos de existência, pois fora criado em 1846.
Em 6 de março foi realizada a primeira eleição para prefeito, vice-prefeito e vereadores à Câmara Municipal. Em 26 de março foi empossa da Câmara Municipal; no dia 2 de abril seguinte, deu posse solene e festiva ao prefeito e vice-prefeito, quando também foi inaugurada a Usina de Força e Luz S. A.